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CONSCIÊNCIA SEM FRONTEIRAS: DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL NO BRASIL

Por Vera Saldanha.

Segundo uma antiga lenda da Grécia , a frase“ Decifra-me ou devoro-te”, era o desafio  da Esfinge proferido a todo viajante que passava por Tebas. O termo esfinge deriva do termo latim, que significa estrangula. Na perspectiva transpessoal teríamos muito a destacar desta metáfora.

A esfinge acrescentaria: “Conhece-te a ti mesmo, só depois poderás me decifrar” é uma das máximas de Delfos e foi inscrita no pronaos (pátio) do Templo do Apolo em Delfos de acordo com o escritor Pausanias. Sócrates, no século IV a.C. a tomou como inspiração para construir  sua filosofia.

Segundo a história, Pitágoras 600 a 580 a.C. teria acrescentado “E conhecerás o universo e os Deuses”.

Certamente a psicologia como ciência vem com a missão de ajudar a decifrar este grande enigma do ser humano.  Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses,  dentro e fora de ti, a unidade e de forma  ampla  na  perspectiva  da Psicologia Transpessoal.

Por meio dos distintos matizes nas diferentes escolas em Psicologia, a partir da perspectiva Transpessoal, insere-se de forma explicita neste conhecer-se a dimensão da transcendência, do mistério, do sagrado, da espiritualidade.

Espiritualidade enquanto uma experiência pessoal, que estabelece conexão com o transcendente.

O aspecto espiritual como parte do humano, que o motiva a uma busca pessoal para alcançar níveis superiores de consciência.

Mobiliza ações pautadas por um código moral e ético intrínsecos, não necessariamente externo, formatado e aparente. Uma experiência que promove valores construtivos como constatou Maslow em suas investigações, denominando-os de valores do Ser, tais como verdade, bondade, solidariedade, beleza, harmonia interior, entre outros.

Portanto é a partir deste lugar que se estabelece então a relação entre Psicologia Transpessoal, Ciência, Transcendência, espiritualidade e valores como pontes importantes do conhecimento, que compartilham um mesmo propósito: o aprimoramento da humanidade.

Embora às vezes possam ter caminhos diversos, há certa convergência em relação a contribuir para a promoção da saúde e bem estar, no sentido de ampliar a capacidade de percepção do indivíduo, favorecer estados de força interior, prazer, alegria e criatividade.

Pensamentos mais lúcidos, emoções saudáveis integradas, as quais favorecem o desenvolvimento psicofísico, social e espiritual das pessoas, instituições, comunidades e sociedade.

Assim ao se de abordar o conhecimento humano, sob a ótica de Psicologia Transpessoal, é necessário à presença destas três características essenciais.

– A transcendência (pertencimento a algo maior que a si próprio).

– A espiritualidade (força motriz em direção ao mais elevado).

– Valores construtivos.

Estes três aspectos refletem diretamente em alguns desafios na pesquisa, formação e na ampliação das práticas profissionais.

Na pesquisa acadêmica, devemos reconhecer que atualmente vem aumentando o número de universidades que oferecem a disciplina, ou até mestrados e doutorados em transpessoal.

Mas ainda irrelevantes, sobretudo no cenário nacional, a publicação de resultados positivos em artigos científicos.

Portanto há que se refletir sob os possíveis caminhos a serem trilhados na pesquisa. Sabemos que os aspectos inerentes à psicologia transpessoal; transcendência, espiritualidade e valores envolvem a importância de abordagens metodológicas múltiplas.

É necessário ir além do quantitativo ou qualitativo e buscar reconciliar as aparentes dicotomias.

Sem números não é ciência, mas só com números reduz a riqueza da experiência. Ao mesmo tempo em que a interpretação do múltiplo viés poderá às vezes impedir uma boa ciência.

Assim esta inserção da transcendência ainda é um dos desafios para a boa pesquisa.

Na formação desta abordagem, se destaca fundamentalmente a necessidade da presença da espiritualidade. Não só o prisma teórico cognitivo, mas também como uma prática pessoal, e nos grupos de formação.

Uma espiritualidade que possa ser estimulada, independente de deidades, ou dogmas religiosos.

Embora no plano pessoal cada profissional /educando possa ter sua orientação religiosa.

É essencial Integrar ao conhecimento intelectual, sensorial, a experiência do conceito de Deus e ir além de sua natureza religiosa, crenças. Fundamentos deste Deus bondoso ou punitivo, ou desta presença ou ausência para o indivíduo.

Neste sentido é fundamental ter uma metodologia que propicie esta estruturação.

Há diferentes abordagens em Psicologia Transpessoal, todos favorecem a experiência da expansão da consciência, e, portanto muitas vezes a vivência espiritual.

Entretanto nem todas estabelecem de forma clara as relações conceituais com a Psicologia Transpessoal.

Dado que as experiências espirituais de fato transcendem ao ego, se torna extremamente difícil para o aluno replicar esta possibilidade vivenciada por ele, no contexto clínico, educacional ou outro.

Se o aluno não recebe uma estrutura conceitual e metodológica clara desta abordagem ficará uma lacuna, ou então ele irá inserir suas crenças e práticas pessoais, muitas vezes dogmas religiosos distancia-se do propósito maior da Psicologia Transpessoal, que é o de favorecer a experiência espiritual individual única, de cada ser humano; o conhece-te a ti mesmo!

Esta foi uma das grandes inquietações em meu deslumbramento inicial pela Psicologia Transpessoal, ao participar em 1978 de um grande Congresso Internacional Transpessoal, com ícones desta abordagem, dificuldade em aplicar e replicar o que havia experienciado era um fato.

Iniciei então uma jornada de cursos, e de minha própria terapia, por diferentes profissionais nesta área, e fui então construindo um método, e o desenvolvimento da Didática Transpessoal objeto de minha tese de doutorado na Unicamp (2006 – FE) uma forma coerente de se ensinar esta abordagem estabelecendo relações entre uma aprendizagem extrínseca contendo programação, e a aprendizagem intrínseca, as experiências e transformações interiores.

Estabeleci os conceitos fundamentais para se der uma orientação transpessoal ao trabalho que se desenvolve na educação, clínica, instituições e outros.

Lembrando que, sobretudo na área clínica para o indivíduo obter resultados em sua aprendizagem transpessoal, contribui ele submeter-se a própria terapia, além de receber uma formação teórica coerente com a proposta transpessoal.

Cabe ressaltar que em uma proposta de formação transpessoal não basta só vivencias e experiências de expansão de consciência.

Na Didática Transpessoal, delineamos o corpo teórico mínimo necessário à compreensão desta perspectiva transpessoal. O conceito de unidade, de ego, de vida, estados de consciência, e cartografia da consciência bem como as polaridades do masculino e feminino. Também a inserção por nós de um novo conceito no desenvolvimento pisco espiritual o processo terciário regido pela transcendência.

Este corpo teórico da sustentação ao recurso técnico que classifiquei em cinco grandes grupos: Intervenções Verbais, Reorganização Simbólica, Imaginação Ativa, Técnicas Interativas e Recursos Adjuntos.

Este corpo teórico, bem como a classificação de técnicas trazem para o aluno a compreensão, inclusive, das diferentes escolas em Psicologia Transpessoal. Os recursos técnicos estarão movendo o indivíduo para as dinâmicas, que irão integrar tanto as dimensões da personalidade, do ego simbolicamente, o eixo experiencial quanto os do Self, da transcendência, o eixo evolutivo, indo mais além por meio da síntese experiencial e evolutiva, a qual acontece em  um fluxo saudável, que  ao olhar mais profundo e atento pode-se percebe-lo didaticamente em sete etapas.

Estas etapas nominei-as de Reconhecimento, Identificação, Desidentificação, Transmutação, Transformação, Elaboração e Integração, e dão uma base metodológica clara ao aluno no sentido de aprender e também desenvolver a expertise para auxiliar o outro e experienciar seus processos psico-espirituais.

Assim a boa formação aliada à própria psicoterapia, leva a vivência da espiritualidade do aluno, irá favorecer a ética intrínseca tão propagada por Maslow.

Claro há que se estar sempre atento.  Somos um “produto” inacabado, e a dança da impermanência, na sombra; luz e mais além fazem parte do caminho.

O que é também evolutivo, pois nos auxilia a cultivar valores como humildade, bondade, compaixão, aceitação para conosco, e para com o outro.

Este é um dos grandes benefícios da espiritualidade, nos ajudar a ampliar o olhar para os eventos da vida de outro lugar, além do nível no qual o desafio ocorreu, e simultaneamente nos traz um novo olhar para os desafios, transformando e transcendendo-os, desvelando novos espaços interiores.

Assim o desafio na formação é o de não ser só práticas espirituais, mas uma espiritualidade praticada, integrada.

Vamos abordar o terceiro aspecto que envolve a ampliação das práticas profissionais. A Psicologia Transpessoal, pode e deve estar presentes nos hospitais, clínicas, escolas, comunidades, presídios, organizações, entre outros, mas para que esta ocorra de forma exitosa, os dois aspectos anteriores, pesquisa e formação serão indispensáveis.

Desta forma distintas áreas de atuação irão promover de forma intensa valores construtivos tanto para aqueles que aplicam, como para os que recebem os benefícios da Psicologia Transpessoal. Quero então compartilhar com vocês algumas áreas distintas nas quais este enfoque vem sendo aplicado.

Mais ainda também promovem a emergência destes valores positivos para aqueles que constatam os alcances do outro nesta abordagem.

Portanto a Transcendência, espiritualidade e valores construtivos são essenciais para a expansão, desenvolvimento, bem como para resultados exitosos na Psicologia Transpessoal.

Há que se debruçar e refletir para encontrar os caminhos que se podem trilhar em Psicologia Transpessoal, e o nosso convite é, para que este encontro possa continuar refletindo sobre todos os desafios e soluções.

Isto é o que fará a diferença, vocês podem. São agentes ativos deste movimento.

A espiritualidade é uma realidade em cada um de vocês, a transcendência é um presente de Deus, presente em todos nós.

O Brasil tem inerente em sua natureza imanente a transcendência, portanto em relação à Psicologia Transpessoal vamos olhar para os desafios como um grande convite ao “conheça-te a ti mesmo, conheça o transpessoal e então transcenderás os desafios, conhecerás a si mesmo, o universo e Deus”.

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