por Iara da Silva Machado*
O mundo está girando na velocidade inerente aos primórdios do século XXI e a humanidade está atravessando uma experiência singular de insegurança não reconhecida pela estrutura psíquica desta geração de contemporâneos. Uma ceifa através da pandemia infecciosa e letal que tem visitado lares de todo o mundo, independente de quaisquer variáveis indicativas sociológicas, raciais, econômicas, religiosas, étnicas…
Neste ciclo 2020/2021 centenas e centenas de pessoas vieram e continuam vindo à óbito, e também centenas vem chegando a vida terrena. E neste contexto venho compartilhar reflexões, que ditam das probabilidades de alteração de vínculo na díade mãe e filho nestes dias atípicos.
É denominada díade o período que vai da fecundação até os três anos de idade, é a era da mãe, da díade mãe-filho que se caracteriza por fortes laços afetivos e certa distância e isolamento do meio circundante. (Griffa e Moreno, 2001).
A leitura primária vem na perspectiva de mulheres que geraram seus filhos até dois anos antes (2018) até este período atual (2021), no entanto também se faz relevante as crianças até sete anos de idade, isto é, fase da formação da personalidade.
Lembrando que a fase de formação esquelética estrutural psíquica que comporta da vida intra uterina até os sete anos de idade, é fundamental para determinar pontos de atuação comportamental do individuo na vida inteira.
Do ponto de vista prático, os meses em que a pandemia deixou grupos de família em inércia sócio profissional, os bebês e as crianças tiveram o contato diário com suas mães e cuidadoras, fortalecendo o desenvolvimento integrativo dos mesmos, no entanto o estresse decorrente da situação generalizada de inseguranças no porvir afetou o circuito psicoafetivo de várias mulheres, que continuam sentindo a instabilidade emocional, quando no retorno as atividades diárias profissionais de modo remoto ou presencial, pois que, sem a garantia de saúde pública o ambiente para os filhos pode está insalubre e o instinto de sobrevivência está sobressaltado, em grupos de maior consciência desperta da gravidade do momento.
Do ponto de vista psicológico, os mecanismos podem ser bastante inconscientes, sendo percebidos apenas os sintomas denominados psicossomáticos, afetando o humor, a nutrição, o sono, a concentração e atenção, a imunidade e expressão espontânea.
Os níveis de ansiedade dispararam entre crianças e jovens pelo empobrecimento de socialização.
A doutora em Antropologia e Etnologia, Giulia Mensitieri, italiana, mãe, residente em Bruxelas, na Bélgica, em conversação com a Iara Machado traz a seguinte alusão, sobre este tema:
Neste momento pandêmico a relação da díade mãe e filho, a dinâmica interativa entre as partes é bastante positiva para os bebês e crianças bastante pequenas, por volta de um ano de idade, mais ou menos, para as crianças maiores não, porque precisam da socialização, do ambiente externo, e não é bom também porque essa relação depende da condição íntima da mãe, se ela precisa trabalhar, se afastar do bebê, é trágico[…] leva-lo para um espaço escolar, sem a maturação espacial e física, sem o contato visual da mãe que cuida e assegura o vínculo […] é complexo […]a qualidade do vínculo neste momento depende muito da categoria sócio econômica, porque as mães que tem uma casa estruturada, grande com jardim e que possam não trabalhar fora de casa podem aproveitar bem este momento para o fortalecimento da díade, mas uma família numerosa, em casa pequena, onde haja várias crianças menores e os pais precisam trabalhar, estão afetadas negativamente pela pandemia sim neste momento, pela insegurança que paira sobre todos. (Mensitieri, 2021).
Estas colocações da doutora Giulia Mensitieri podem ser lidas como algo que sempre existiu, famílias populosas, com baixa condição econômica e necessidade de afastamento filial precoce é questão usual, no entanto, o elemento basilar, inusitado nesta partilha é o fator pandêmico, pois que essa variável, que pode ser letal nas famílias, obstrui o canal da segurança e confiabilidade no bem maior existencial, que é a própria vida física.
De que maneira poder-se-á auxiliar a minimizar os impactos psicológicos materno filial?
Aqui deixamos uma sugestão reflexiva sobre a bioenergia que une os indivíduos que se amam aludindo às famílias que sejam produtivas nas manifestações afetivas no lar, do colo ao abraço, pois que os bebês e as crianças se nutrem e são nutridas por todos os sentidos físicos, no toque, na voz, no paladar, na visão e no cheiro. Tudo que chega ao corpo infantil é alimento psico afetivo e pode ser um bom imunizante para as fragilidades humanas neste momento planetário.
Que o toque do amor seja uma porta aberta nos lares, diminuindo as fronteiras do medo e fortalecendo o ambiente na frequência da esperança operante e produtiva. Até que esta fase passe, como tantas outras passaram, deixando como legado nas famílias a força da superação e empoderamento doméstico na dinâmica de herdeiros e herdeiras de uma vida humana mais fraterna, responsável e ética.
O maior poder do ser humano é viver a sua capacidade de ser gracioso, amoroso, vital e espiritual no legado psico emocional planetário.
26/03/2021
*Iara da Silva Machado. Psicóloga Transpessoal. Especialista em Infância e Adolescência. Analista Bioenergética. Astroterapeuta. Gestora de Grupo de Cuidados com o Feminino na Paraíba e Bahia. Escritora. (CRP13/2262; ALUBRAT 201742).
Comentários(2)-
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Maria Pereira diz
16 de abril de 2021 at 6:54 amBom Dia! Amei o artigo,é verdade ,temos que ter muita atenção ás nossas crianças e jovens. Parabéns pelo o alerta. O meu bem haja.
Ryath diz
14 de julho de 2021 at 12:19 amConcordo em gênero, numero e grau! Muito bom!
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