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Educação Transpessoal: Valores e Transformação Humana

Por: Arlete Silva Acciari 

Introdução

Ao refletirmos sobre a realidade globalizada que temos hoje no planeta, percebemos que cada vez mais se descortina diante do homem e das sociedades a carência de valores e processos de transformação no âmbito individual e coletivo e observamos nas últimas décadas a emergência da necessidade na mudança de paradigma[1].

Diferentes correntes filosóficas têm apresentado teorias que revelam um novo olhar sobre o homem e das diferentes realidades existentes, temos observado muitas tentativas de um “resgate cultural”, que propõe a renovação social por meio da transformação dos seres que a compõem, por meio de mudanças profundas na consciência individual e coletiva, num processo ascendente rumo a uma nova mentalidade. “Talvez seja o exercício da interpretação da vida que pode tornar mais humana a vida do ser humano” (Trevisol, 2008, p. 7).

Ao lançarmos um olhar ampliado sobre a forma como os grupos humanos estão preparando novas gerações, podemos afirmar que a educação ocupa um espaço de grande relevância nesse cenário. Repensarmos e cuidarmos desse processo, cuidar dos seres, de seu desenvolvimento e por consequência da sociedade, tornou-se uma necessidade básica para uma realidade na qual a vida seja o “que é” e não fonte de sofrimento e desalento como tem sido para muitos. Dessa forma, se faz necessário ampliarmos ações educativas pautadas por metodologia e processos que verdadeiramente auxiliem as pessoas a se desenvolverem, se encontrarem, se tornarem felizes e realizadas. Processo esse associado a desenvolvimento de capacidades, habilidades, potenciais e recursos para a ação assertiva e transformadora.

Nesse cenário surge uma cosmovisão que integra conquistas atuais da ciência, com heranças culturais antigas advindas do campo científico, filosófico e tradições religiosas. A Psicologia Transpessoal (PT) tem se revelado uma área de conhecimento com significativa importância no âmbito dos novos saberes por apresentar uma visão antropológica de homem que o considera em sua multidimensionalidade, um caráter transdisciplinar, resgatar valores essenciais ao viver pessoal e coletivo, em especial aos processos de cuidado, ensino e aprendizagem. Recentemente observamos no trabalho de Saldanha (2006 e 2008), com a sistematização da Abordagem Integrativa Transpessoal (AIT), uma proposta metodológica que transcende o campo da observação, da interpretação e da reflexão; avança para o campo da ação, formando profissionais para essa perspectiva de ação no mundo, alinhado com esse novo paradigma.

Educação e Valores Humanos

Maturana e Rezepka (2003) apresentam uma proposta reflexiva bastante interessante em torno da tarefa educativa que inclui a questão da formação humana e a capacitação. Para esses autores a capacitação se refere à aquisição de habilidades e capacidades de ação no mundo, enquanto que formação humana, está relacionada com o desenvolvimento da pessoa de ser co-criadora em seus espaços de convivência. Surgem aqui então algumas indagações: Qual a tarefa da educação? Qual o papel do professor?

Os autores esclarecem que o “segredo” para o aspecto conceitual vem de uma proposta denominada “A Biologia do Amar” é o “segredo” da ação e a correção do fazer e do ser, a partir da confiança despertada no aprendiz que nele está tudo que ele precisa para ser um ser humano íntegro, responsável e amoroso.

Silva (2004) propõe uma visão transdisciplinar de educação para a saúde integral, em uma proposta que a autora chamou de “Educar para a Conexão”, no contexto de uma ecologia cognitiva e afetiva que oportunize a conexão com o Eu, com o Outro e com a Natureza. O espaço de aprendizagem pode ser propício à revelação e expressão de sentimentos, evitando a negação de quem somos num entendimento de nós mesmos como um todo, com muitas dimensões que são capazes de aprender, administrar os próprios desejos e frustrações. Podemos assim, desenvolver um entendimento mais profundo e incondicional do ser humano, ser de potencialidades, habilidades, limitações e dificuldades, com capacidade de aceitar a si próprio e ao outro, e colaborar para uma evolução conjunta, universalista e humana.

Contribuições de Maslow

Para ele a meta da educação é levar o indivíduo a autorealização, a ser plenamente humano e ser melhor do que se é capaz. Esta possibilidade de sermos infantis, travessos e, ao mesmo tempo, cidadãos sóbrios, responsáveis e ficarmos atentos ao nosso mundo interior assim como ao gozo, à poesia e sensações do mundo exterior, nos abre para a transcendência da dicotomia presente em pessoas autorealizadas.

Em sua teoria de educação criativa, humanista, verbal e não verbal (arte/dança) deve-se dar atenção especial aos valores superiores e facilitar sua emergência. Os educadores além de ensinarem inúmeros, conhecimentos, deveriam colocar mais foco no porque e para que estariam ensinando determinada matéria, visando sempre o pensamento do educando, sua conduta e comportamento. Essa perspectiva de aprendizagem integra a aprendizagem extrínseca, conteúdo programático, à aprendizagem intrínseca, o autoconhecimento. Um ser humano orientado no processo humanista possibilitaria um desabrochar de pessoas criativas, espontâneas, expressivas, improvisadoras e confiantes, colaborando de maneira significativa para uma sociedade saudável e ética.

Dentre os atributos da psique humana explorados por Maslow, ressalta-se o que ele denominou de criatividade primária, aquela que surge do inconsciente, que é a fonte de novas descobertas e herança de todas as crianças. Já a criatividade secundária é toda classe de produtividade, a realidade no qual se concretizam as ideias. Em suas palavras: “[…] as escolas devem ajudar as crianças a olharem dentro de si mesmas, e deste autoconhecimento se deriva uma série de valores” (Maslow, 1990 p.181).

Observamos em suas contribuições a dimensão da unidade entre educando e educador, e destes com a sociedade e vice versa. Valoriza as potencialidades humanas e ressalta e que é a partir do próprio educando que se inicia o processo de ensino e aprendizagem. Pois, para ele, todo ser humano tem em sua natureza um impulso ao crescimento e à transcendência.

Contribuições de Sathia Sai Baba

Estabelecendo um paralelo entre o programa em Valores Humanos de Sathya Sai Baba para crianças e jovens e as propostas de Maslow, podemos observar que ambos têm uma visão humanista e a preocupação em criar uma sociedade melhor, dando sempre prioridade a descoberta e incentivo dos valores humanos inerentes aos seres.

Segundo Priddy (2002) para Sathya Sai Baba, educador indiano e premiado em 2000 como Homem da Paz do Ano pela UNESCO, a educação é uma preparação para a eterna busca por autoconhecimento e pelo sentido da vida. Isso envolve viver de acordo com o que é certo, bom, verdadeiro e belo ao invés de ser preparado primeiro para ganhar dinheiro. Educar para que se produzam bons cidadãos e uma boa sociedade, não apenas bons cérebros.

As pessoas tidas como educadas e diplomadas pelo modelo cartesiano, com uma formação universitária, não apresentam necessariamente sinais de autoconhecimento e nem qualidades que seriam inerentes ao ser humano, como; misericórdia, solidariedade ou compaixão. O sistema se limita à transmissão de informação e conteúdo, e não raro, segregando o Ser do processo.

O amor significa o sentido de inter-relacionamento e envolvimento do indivíduo com a comunidade, o que o faz reconhecer o parentesco que existe entre ele e os outros. Para Sai Baba a educação espiritual não é uma disciplina distinta e separada, mas sim parte integrante de todos os tipos e níveis de educação.

Deve-se indagar: Por que com a educação superior sendo mais acessível no mundo todo, do que em qualquer outra época, muitos problemas humanos terríveis e crises reais estão longe de serem resolvidos e reconhecidos?

As universidades de hoje converteram-se em fábricas que produzem graduados e pós-graduados. Porém devemos perguntar o quanto esse processo está contribuindo para o bem da humanidade e da sociedade? Há um texto, se trata de uma carta[2], que pode nos conduzir em uma reflexão interessante sobre este aspecto:

Prezado Professor:

Sou sobrevivente de um campo de concentração, meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados, crianças envenenadas por médicos diplomados, recém-nascidos mortos por enfermeiros treinados, mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas suspeitas sobre a Educação.

Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis (Silva, 2004, p. 87).

Educação para o Ser Integral

Um novo paradigma educacional emerge nesse sentido e a relevância desse tema resulta de um conjunto de mudanças que podem transformar a realidade planetária. O homem, que se viu como centro do universo, mostrou também sua imensa capacidade de autodestruição através de lutas insanas pelo poder e, pior, cometendo homicídios em massa, muitas vezes, em nome de ideais religiosos. Este mesmo ser, detentor de ilimitada criatividade, foi capaz de levar seu planeta a uma devastação sem precedentes na história da humanidade.

Boff (1998) nos apresenta uma indagação de extrema relevância nesse contexto: “Como construir o humano se nele convivem o anjo da guarda e o diabo exterminador? […] Precisamos construir pontes, integrando nossas dimensões opostas […] numa lógica dialógica que se realiza estabelecendo conexões em todas as direções” (Boff, 1998, p.19-21).

No processo de globalização competitiva em que nos encontramos, já não há barreiras físicas, já sentimos a teia de que somos formados. Devemos, pois, passar à globalização cooperativa onde, “[…] estamos todos sob o mesmo arco-íris da solidariedade, do respeito e valorização das diferenças e movidos pela “amorização” que nos faz irmãos e irmãs…” (Boff, 2003, p. 46).

Somos filhos e filhas da Terra, com a qual temos ao longo desses 15 bilhões de anos, misturado nossas matérias mais básicas. Fazemos parte de um todo, do qual somos co-criadores, ansiamos por um mundo mais ético, sustentável e amoroso, integrando o feminino, esquecido numa civilização patriarcal, reducionista e dualista. Segundo Boff (2003), o novo ser deverá criar condições materiais, culturais e espirituais, que garantam o destino humano, articulado com o destino do planeta.

A educação humanista de Maslow ajudaria os indivíduos a se libertarem dos condicionamentos impostos pela cultura, desabrochando o sentimento de amor pela humanidade, tão desejado por Satya Sai Baba. Nesse sentido a educação para o ser integral aquela que não exclui e sim inclui, que integra o SER ao SABER, trabalhando com conteúdos no campo da racionalidade e da afetividade e integrando à expressão natural do nosso ser mais essencial, com respeito e sacralidade, perdidos em detrimento dos avanços tecnológicos e uma relação materialista consigo próprio, com o outro e com a natureza.

As crianças, segundo Maslow (1990), têm facilidade em vivenciar experiências culminantes e devemos evitar impedi-las, tornando a aprendizagem uma experiência de prazer, acrescida de segurança, dignidade, amor, respeito e estima. Incentivar o equilíbrio entre liberdade e o controle, mas evitando-se a repressão. A educação seria dirigida ao desenvolvimento do caráter das pessoas, mais do que só um processo de aprendizagem, focalizaria o como no aqui e agora, valorizaria a capacidade de ver, ouvir e expressar o que está ocorrendo no momento presente. Sua visão e princípios teóricos têm sido amplamente divulgados e aplicados atualmente pela PT em favor do desenvolvimento humano, em um processo educacional que transcende as “salas de aula”, o ensino regular e formal.

A Abordagem Integrativa Transpessoal na Educação

Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, aquilo que é belo, do que é moralmente correto (Albert Einstein). 

AIT, proposta por Saldanha (2006 e 2008) encontra-se alinhada com os preceitos da educação integral, com autores que propõem uma escola humanizada, cuja pedagogia segue uma abordagem holística e transdisciplinar, integrando a aprendizagem intrínseca e extrínseca. Especialmente os conceitos de Maslow (1996), que valoriza a integração da comunicação interna e externa.

Saldanha (2006) ao sistematizar a Didática Transpessoal, propõe um modelo em educação com caráter integrativo a partir de dois conceitos:

  1. Aprendizagem Extrínseca: Integração e assimilação do desenvolvimento, conceitos, princípios teóricos e metodologias da ciência, da filosofia, das artes e das tradições, disponibilizados por diferentes tecnologias. Constituindo-se uma gama de informações externas disponibilizadas ao aprendiz;
  2. Aprendizagem Intrínseca: “Oriunda do mundo interior e para o mundo interior do aprendiz”, são evidenciados fatores de autoconhecimento, valores e ética, orientada para o bem comum e para o desenvolvimento do ser. Não se trata de apreender informação, se trata de dar sentido à experiência.

Na Didática Transpessoal esses dois aspectos são considerados e trabalhados a partir dos referenciais da AIT. A aprendizagem adquire um sentido na vida do educando, gera crenças saudáveis e promove atitudes construtivas, visa integrar a expressão do ser ao seu processo de aprendizagem. Simbolicamente essa dinâmica está ilustrada na Figura abaixo.

[1] Paradigma é um modelo ou padrão. Segundo Moraes; la Torre (2004), um paradigma rege a maneira como pensamos e o modo como usamos nossa lógica. São os parâmetros que regem nossos pensamentos e ações.

[2] Autor desconhecido

Saldanha (2006) propõe uma abordagem sistêmica em educação que integra recursos metodológicos, conceitos e técnicas que têm a seguinte premissa básica: a vivência da realidade se dá em função dos diferentes estados de consciência em que o indivíduo está e devem ser considerados amplamente no processo educacional.

A percepção da realidade no indivíduo varia em função de seu estado de consciência, portanto a relação que ele estabelece com o conhecimento, com o novo, dependerá dos estados de consciência que estão sendo potencializados. Em geral, a consciência de vigília, é o estado mais demarcadamente cognitivo racional, é o predominante no indivíduo e, em geral, o mais estimulado em nosso atual sistema educacional. Contudo, para uma aprendizagem integral outros estados de consciência devem ser estimulados e, segundo a autora, o aprendizado se dá em sete etapas ou passos sucessivos e simultâneos.

  1. Reconhecimento: Quando o indivíduo mobiliza-se, para acolher o novo, é o momento da motivação, da mobilização interna, independente do fato de ser desencadeado por estímulos intrínsecos ou extrínsecos. É o primeiro contato com o conteúdo;
  2. Identificação: Nessa etapa é quando se dá a participação do emocional, mobiliza-se a criatividade, a espontaneidade ligada ao conhecimento em aquisição. Se não houver uma identidade, uma ressonância para a participação do indivíduo, ele abandona o conhecimento, ou fica só como mera informação intelectual, disfuncional;
  3. Desidentificação: Momento onde a racionalidade se impõe, surge o discernimento crítico, busca-se estimular diferentes olhares de diversos pontos de vista, mas o conhecimento é ainda algo fora do indivíduo, articulado em suas diferentes partes;
  4. Transmutação: O conhecimento adquire significados, aspectos positivos e negativos, aspectos fáceis e difíceis; entra-se em contato com os desafios, a luta entre o querer e o abandonar. Diferentes aspectos são experimentados associados a aspectos funcionais e disfuncionais de uma mesma realidade, experimenta-se o diferente, mas a aquisição ainda não se instalou. O aprendiz é estimulado a experimentar diversas possibilidades de entendimento e aplicação do conteúdo;
  5. Transformação: A experiência pessoal, somada ao conhecimento, transforma-se no novo conhecimento estabelecido, se estabelece um novo contexto. A realidade interna não é mais a mesma e há recurso disponível para transformar a realidade externa;
  6. Elaboração: Como resultante da própria transformação surge o insight. O sentido da nova aquisição é estabelecido e sua dimensão no contexto pessoal, social e espiritual. Os eixos experiencial e evolutivo estão integrados, surge a apreensão do verdadeiro conhecimento e são estabelecidas relações com sua aplicação;
  7. Integração: Quando o conhecimento é integrado na vida cotidiana, o indivíduo pode aplica-lo em suas práticas, a pessoa e sua realidade se transformam e evoluem em prol do bem e melhor pessoal e coletivo.

O processo de integração e apreensão do conhecimento ocorre com o uso das técnicas utilizadas na AIT, articuladas sempre com essas sete etapas, possibilitando assim a estimulação do eixo experencial (REIS), ativando o eixo evolutivo, e integrando-os; o que promove naturalmente o aprendizado, a expansão de consciência, a transformação do indivíduo e sociedade.

Saldanha (2006 e 2008) considera que o educador é um facilitador do processo de ensino aprendizagem, aquele que favorece o insight para aprendizagem significativa, que inclui não só teorias e técnicas, mas aquisições pessoais em perspectiva transpessoal. Dessa forma, o contexto e o espaço de aprendizagem se tornam sagrados, onde a interação entre educador e educando se traduzem em crescimento, desenvolvimento e gratificação mútua. Todos ganham, todos crescem e todos se beneficiam e aprendem.

A ação pedagógica se torna altamente motivadora para todos os envolvidos no processo educacional, o ser reconhece que a natureza humana é aberta a transformação e a transcendência contínua, que em si mesma não é boa ou má, porém necessita de acolhimento cuidado ao ser para florescer e prosperar. Assim nessa perspectiva de aprendizagem, os velhos pressupostos geram um questionamento a respeito das mudanças nas normas, na obediência e nas respostas que podem ser abertas, encontrando como zona de conforto o padrão já estabelecido. Os novos pressupostos levam à indagação sobre como motivar para o aprendizado durante toda a vida, como reforçar a autodisciplina, como despertar curiosidade e como encorajar o risco criativo em pessoas de todas as idades. No entanto, nas práticas educacionais atuais observamos um movimento rumo a um novo paradigma que coabita com um antigo paradigma em educação.

O Velho Paradigma de Educação e o Novo Paradigma do Aprendizado

Velho Paradigma de Educação Novo Paradigma do Aprendizado
Ênfase no conteúdo, adquirindo um conjunto de informações “corretas” e de uma única vez.

 

Ênfase em aprender como aprender, como fazer boas perguntas, prestar atenção às coisas, manter-se aberto aos novos conceitos e a avaliá-los, ter acesso à informação. O que agora se “sabe” pode mudar. A importância do contexto.
Aprendizado como um produto e uma destinação. Aprendizado como um processo e uma jornada.
Estrutura hierárquica e autoritária. Recompensa o conformismo, desencoraja a divergência. Estrutura não linear. Sinceridade e divergências permitidas. Alunos e professores se veem uns aos outros como pessoas e não como funções. A autonomia é encorajada.
Estrutura relativamente rígida e currículo predeterminado. Estrutura relativamente flexível. Busca de diversos caminhos para ensinar-se determinado assunto.
Progresso controlado, ênfase nas idades “apropriadas” para certas atividades e segregação por idade. Compartimentado. Flexibilidade e integração por grupos de idade.

O indivíduo não é automaticamente limitado em qualquer assunto pela idade.

Prioridade na realização. Prioridade na autoimagem como geradora de realização.
Ênfase no mundo exterior. A experiência interior com frequência considerada inapropriada na moldura escolar. A experiência interior encarada como contexto para o aprendizado. Uso de imagens, relatos de histórias, diários de sonhos, exercícios de “centralização” e encorajamento da exploração de sentimentos.
Desencorajamento de dúvidas e do pensamento divergente. Encorajamento das dúvidas e do pensamento divergente como parte do processo criativo.

Esforço na educação para todo o cérebro.

Ênfase no pensamento analítico e linear do cérebro esquerdo. Aumento da racionalidade do cérebro esquerdo com estratégias holísticas, não lineares, intuitivas. Ênfase, na confluência e na fusão dos dois processos.
Confia principalmente no conhecimento teórico e abstrato, no “conhecimento livresco”.

 

O conhecimento teórico e abstrato é amplamente complementado pela experiência, não só nas salas de aula como fora delas. Viagens ao campo, aprendizagem, demonstrações, visitas a especialistas.
Salas de aula planejadas para eficiência e conveniência. Preocupação com o ambiente do aprendizado: iluminação, cores, arejamento, conforto físico, necessidade de privacidade e de interação, atividades calmas e fartas.
Burocraticamente determinadas, resistentes aos anseios da comunidade. Encorajamento dos anseios da comunidade, até mesmo do controle pela comunicação.
A educação é encarada como necessidade social durante para o treinamento do desempenho de determinado papel. A educação é vista como um processo que dura toda a vida, relacionado com o desenvolvimento do ser.
Aumento de confiança na tecnologia (equipamento audiovisual, computadores, fitas, textos) e desumanização. Tecnologia apropriada, relacionamento humano entre professores e educandos são de importância fundamental.
O professor proporciona conhecimentos. O professor é um educando também, aprendendo com seus alunos.

 

Faz-se necessário assim rever toda a conceituação tradicional do desenvolvimento humano, aprender e apreender a realidade e o saber, catalisando potenciais transpessoais para que a mente transcenda seus próprios limites usuais. Wash & Wash (1993) apresentam uma reflexão muito interessante e convida-nos a praticar a “Arte da Transcendência”, que inclui:

  1. Ética: Compreendida em um conceito distinto, que não envolve moralidade e sim disciplina da mente, cultivando a calma, a compassividade e o cuidado;
  2. Treinamento da Atenção: Cultivo da concentração para estar habilitado para dirigir a atenção pela vontade;
  3. Transformação Emocional: O comportamento ético e a estabilidade da atenção favorecem redução das emoções destrutivas, cultivo das emoções saudáveis e cultivo da equanimidade;
  4. Motivação: O comportamento ético, a estabilidade da atenção e a transformação emocional redirecionam a motivação para o saudável e reduzem a compulsividade, os objetos desejados se tornam mais sutis e internos; a arte da transcendência ocupa lugar privilegiado nesse processo;
  5. Refinamento da Consciência: Com a prática da meditação, relaxamento e processos de autoconhecimento, amplia-se a consciência, o que faz surgir a inovação de cada momento da experiência que se apresenta mais interessante e apreciativa, assim como o cultivo da sabedoria e as capacidades intuitivas;
  6. Sabedoria: A sabedoria é mais significativa que o conhecimento, reconhece que o sentido de se estar “ilhado” pode ser transcendido. Essa transformação floresce do desenvolvimento da percepção intuitiva, para além dos pensamentos, conceitos ou imagens de qualquer espécie. 

Considerações Finais

É inegável que a evolução da sociedade está associada ao processo evolutivo da humanidade, que por sua vez, depende da evolução de cada Ser. Nesse contexto a educação ocupa lugar diferenciado por fazer parte da vida, do cotidiano e da formação de toda pessoa humana, se iniciando no núcleo familiar e se estendo às demais instituições escolares, ambientes de trabalho e demais ambientes de convívio social.

Nesse sentido considerando: a) as contribuições da PT, especialmente com as contribuições de Maslow ao considerar a multimensionalidade do ser, inserindo a espiritualidade como um fator fundamental ao desenvolvimento humano, valorizando o autoconhecimento e propondo o a inserção da arte e do lúdico no âmbito educacional; b) o trabalho de Maturana enfatizando a necessidade de se considerar a afetividade; c) Sathya Sai Baba destacando o sentido de pertencimento, a amorosidade e o respeito; d) Saldanha apresentando a importância da integração do REIS e o ensino orientado em sete etapas; encontramos na modernidade os preâmbulos de novos paradigmas rumo a uma educação que contribua verdadeiramente ao desenvolvimento integral do Ser.

Referências Bibliográficas 

Maslow, A. H. (1969). Introdução à psicologia do ser. Rio de Janeiro : Eldorado Tijuca. 279p.

Maslow, A. H. (1990). La amplitud potencial de la naturaleza humana. 2ª ed. México : Trilhas. 398p.

Maslow, A. H. (1994). La personalidade creadora. 5ª ed. Barcelona : Kairós. 4801p.

Maslow, A. H. (1996) Visiones Del Futuro. Barcelona : Kairós. 310p.

Maturana, H. & Rezepka, S. N. (2003). Formação humana e capacitação. Petrópolis : Vozes. 86p.

Priddy, R. (2002). Livro fonte do Sonho; meu caminho até Sathya Sai Baba. São Paulo : Madras. 264p.

Saldanha, V. (2006). Didática transpessoal: perspectivas inovadoras para uma educação integral (Tese de Doutorado) Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas-SP. 383p.

Saldanha, V. (2008). Psicologia Transpessoal: abordagem integrtiva Transpessoal, um conhecimento emergente em psicologia da consciência. Ijuí : Inijuí. 341p.

Silva, V. L S. (2004). Educar para a conexão: uma visão transdisciplinar de educação para a saúde integral. Blumenau : Nova letra. 207p.

Trevisol, J. (2009) Educação Transpessoal. São Paulo : Paulinas. 207p.

pratices. Jornal of Transpersonal Psychology, 25, 1-1.

 

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