(19) 99994-2602
contato@alubrat.org.br

Blog

Consciência, Sonhos e Meditação

Vera Saldanha – Campinas, 10 de setembro de 2019

“Talvez na próxima geração de psicólogos mais jovens, esperançosamente
libertos das proibições e resistências universitárias, haja alguns que ousarão investigar
a possibilidade de haver uma realidade
licita, que não está exposta aos cinco sentidos; uma realidade na qual o
presente, o passado e o tempo desparecem, uma realidade que pode ser
percebida e conhecida somente quanto somos passivamente receptivos, em vez
de ativamente inclinados a conhecer. É um dos desafios mais excitante
postos à Psicologia”.
Carl Rogers

O QUE SÃO SONHOS?

Comunicação, premonição, soluções, antecipações. Tudo isso e muito mais.
A organização e aprimoramento dos processos mentais necessitam de uma pausa
na consciência de vigília. A análise crítica constante da mente racional
bloqueia processos de apreensão da realidade essencial; no sonho essa
realidade se revela.
Entretanto, muitas vezes, não damos atenção ou o que é pior, usamos apenas a
nossa análise crítica, racional da consciência de vigília, com as
inquietações do nosso dia a dia, que sequestram a essência dos processos da
vida real, eterna da consciência e unidade. Da vida que realmente é, nos
move, traz esperança ativa, a busca com ação e entusiasmo.
Encontros? Muitos são os eventos que ocorrem em nossos sonhos. A consciência
expandida deixa de ter espaço e tempo limitado. É tempo e espaço ilimitados.
Deixa de ter classificações como encarnados, desencarnados, seres vivos,
seres mortos. Tudo é vida. Tudo está vivo. Só há diferença dos estados de
matéria ou de frequência de energia, se acharem melhor. Assim diante de um
manancial de conhecimento, de importância salutar, como utilizar mais essa
possibilidade diária e esplendorosa que nos cerca?
Paz, paz, paz, essa é a condição fundamental para a serenidade necessária de
apreensão de uma realidade maior nos nossos estados de sonho. Uma serena e
doce alegria, a presença.
O estado meditativo de não pensamento, é uma condição essencial, não só para
um dia mais saudável e produtivo, mas sobretudo para uma noite de sonhos, de
encontros mais lúcidos.
Sem o turbilhão de atividades que se dizem às vezes necessário, que envolve
a organização diária no planeta Terra, focamos e recebemos com clareza,
informações, direções e soluções. Assim para desvelar os sonhos há que se
meditar. Portanto antes de focarmos os sonhos, há que se focar a meditação.
E o que é meditação?

MEDITAÇÃO

Tantos e tantos tratados já foram escritos sobre este tema, desde as
tradições mais antigas à moderna psicologia e neurociências.
Entretanto, se tornam confusas as ideias a respeito desta prática. Ela não
pode ser simplesmente uma técnica dissociada de suas ações contínuas e
diárias. Ela não é mais um “fazer”. Uma tarefa ou compromisso diário entre
tantos que assumimos.
A qualidade de presença em suas ações é que determinará o grau meditativo em
sua vida. Se há vigor, envolvimento, se há energia transbordando, há
consciência, há unidade, há presença. Se há inquietação, temores, medos, há
conflito, há sofrimento, ilusão e perda de visão, há fragmentação.
Se há fragmentação não há meditação.
A fragmentação nos tira do estado meditativo.
E o que é fragmentação? Simplesmente é “essa coisa”, este estado de
percepção distorcidos, equivocados que nos separa da realidade maior de
nosso ser essencial.
Do ser que realmente sempre foi, não nasceu neste planeta, está neste
planeta, aquele que nos conduz ao que verdadeiramente somos em direção a nós
mesmos. A nossa dimensão esquecida muitas vezes abandonada e negada.
Solte-se, deixe que as ideias de análise, de julgamento, dos conceitos
conhecidos, simplesmente se dissipem em sua mente. Elas são importantes
quando você redigir textos, ou realizar ações específicas, relacionadas
àquele pensamento ou conhecimento aprendido.

Entretanto ao interpor suas pré-ideias concebidas, você se fecha ao novo, ao
inusitado, você se fecha à vida que flui; você se fecha à realidade maior.
A realidade não é a que nossos olhos veem, mas o que nosso coração sente.
Os sonhos, por serem sonhos, ampliam nossa percepção de realidade, são um
estado de expansão de consciência. Nos tiram essa visão limitada que impede
a percepção do coração, da essência, do fluxo da vida.
É essa visão limitada que é estruturada em nossa mente, em nossos conceito e
crenças, fundamentalmente em nosso ego, que deseja ter sapiência e controle
de tudo que o cerca. Isto é fragmentação.
Não se exerce o controle sobre nada na realidade maior, pois para ter
controle, como tão bem mostraram os experimentalistas, é necessário
delimitar, fazer um “recorte” da realidade, fazer uma fragmentação.  Nossa
vida, não é um estudo a ser recortado, mas sim um conhecimento a ser vivido,
ilimitado, infinito. Um universo de inúmeras possibilidades. Uma experiência
da consciência a ser despertada.
Os sonhos podem ajudar o despertar desta consciência, podem auxiliar a
dissipar esses véus que nos impedem de fluir e acessar o conhecimento maior
que possuímos. Os sonhos são sementes precisando serem regadas para
germinarem, crescerem e florescerem.
A meditação é a rega, a nutrição, a condição para germinarem; é o estado que
oportuniza este florescer, desabrochar e o crescer saudável dessa semente de
vida.
O sonho é o contato direto com essas realidades distintas, adormecidas nas
quais não se analisa, não se interpreta, não se limita. Sente-se, vive-se,
“acorda-se” em nossa consciência adormecida.
Por essa exclusão nosso estado usual é o de não vida, é de autômatos, de
letargia ou compulsão, que leva a dissociação, à fragmentação.
Somente técnicas de preparação pré-onírica, ou de análise dos sonhos, são
insuficientes, assim vamos ao cerne do nosso despertar real, para a
consciência e meditação dos sonhos e da vigília.
A seguir então, vamos trazer alguns passos especiais à meditação e só então
abrir o manancial do sonho lúcido, do sonho revelador.
Pausar, silenciar, meditar.
Despertar! Mesmo quando sonha!

COMO MEDITAR

A posição do corpo tão divulgada nas práticas meditativas em posição de
lótus ou de iogue, nem sempre é a posição mais indicada para nós ocidentais.
Nossa cultura tem por hábito sentar em cadeiras.
Assim, sente-se na cadeira, pés com pés, bem no chão em ângulo de 45 graus.
Mãos soltas naturalmente ao longo do corpo sobre as pernas. Esta é a
postura.
Às vezes ao entrar no estado de presença você sentirá necessidade de se
movimentar, ajeitar-se, alinhar mais seu corpo, sua coluna. Faça isto.
É difícil? É impossível aprender a meditar?
Essa é uma pergunta que muitos se fazem. Sem dúvida, na contemporaneidade
vem se tornando cada vez mais um ato, ato de amor.
É impossível amar? Para meditar exige-se a capacidade intrínseca de amar.
É impossível amar?
Cada vez mais, meditação e amor se entrelaçam na escola do saber, na
experiência de realmente ser e viver.
Para meditar exige-se entrega, não há meditação sem entrega. Para entrega é
necessário confiar, para confiar é necessário aceitar incondicionalmente.
Aceitar-se, aceitar o outro, aceitar as circunstâncias, aceitar o todo, até
o inaceitável.
Só se aceita incondicionalmente na esfera do estado de amor, que não julga,
que testemunha, que tem compaixão, que esclarece, que ilumina, que se
perdoa, que perdoa o outro.
Sem essa subjetivação do amor há prisão no pseudo estado meditativo.
Prisão que muitas vezes se torna arrogância, distanciamento, isolamento,
julgamento, separação. Separação que se torna fragmentação.
Fragmentação é o oposto da meditação. Medita-se em ser um para se integrar.
Neste estado meditativo não há separação do dentro e do fora, do eu e do
outro. Há paz, contentamento, serenidade, amorosidade que se reflete em um
estado de profundo amor.
Então sim, chegamos ao estado meditativo, e viveremos a não separação, a
iluminação.
A iluminação pode ser experimentada em momentos como “flashs” rápidos,
instantâneos, durante o processo de meditação. Entretanto, quando é um
estado genuíno, mesmo estes breves instantes não são como fogos de
artifícios que iluminam, e a seguir nos levam a uma profunda escuridão, até
mesmo um desconforto pelo barulho, pelo eco que ainda ressoa no ar, e pelo
odor do queimado, poluído.
Não, estes breves instantes resultam em acréscimo, benefício, mente mais
lúcida, ação com mais precisão.
Resulta cada vez mais em acréscimo a um estado de lucidez mental, de clareza
de raciocínio.
A evolução do ser não se torna assim atos isolados ou técnicos. Não basta a
técnica meditativa, mesmo que está se dê ao longo de anos e anos.
Há que se trabalhar as emoções negativas, destrutivas; há que se buscar a
ética natural nos pensamentos, nas ações; há que se desfazer o mar das
projeções que o ego continuamente lança sobre os outros, sobre a vida e
sobre as instituições eximindo o próprio sujeito da ação de crescer. Ou pior
ainda, considero que vai aleijando o indivíduo de se perceber, levando-o à
escravidão e à ignorância de si mesmo, em crenças e incessantes pensamentos
automáticos que o dominam completamente.
Julgamento, divisão como não os exercer, como não os fazer?
Pode-se alienar da realidade social? Distanciar-se? Evitar até mesmo
informações, o que facilitaria o não envolvimento?
Porém o não envolvimento não significa absolutamente não julgamento, apenas
caracteriza muitas vezes uma simples omissão, a qual pode ter por traz uma
crença conceitual.
Assim mesmo o que fazer diante de si próprio, e daqueles que convivem no dia
a dia muito próximo, alvos fáceis doa autojulgamento e das projeções do
inconsciente familiar?
Como exercer um diálogo sadio? Uma convivência saudável, que caracterize
relações de troca, de crescimento, sem fragmentações, juízos críticos ou
julgamentos?
Eis um dos maiores obstáculos, um dos maiores desafios que se impõem ao
crescimento espiritual.  O atravessar continuamente o mar de relações sem se
deixar afogar em mágoas, rancores, exigências, rigidez, inflações do ego,
julgamentos.
O que a relação com o outro nos impõe? Acima de tudo a relação saudável
com nós próprios.
Lembre-se de que a meditação é o instante de maior relação consigo próprio.
Desta forma a relação com o outro reflete inevitavelmente a relação mais
íntima consigo próprio.
Observe-se durante o seu processo meditativo.
Há inquietação?
Sente-se ansioso?
Cria expectativa, se dispersa? Fica ausente, em transe idealizado?
Permite-se estar entregue?
Há acolhimento individual do momento, do instante que você se disponibiliza
ao processo meditativo?
Ah! Como responder tais questões sem se deixar enredar pelas armadilhas do
ego, que contará para você lindas e belas histórias sobre si mesmo? Ou, como
um tirano cruel te humilhará, o criticará durante, tentando convencê-lo de
que você é totalmente incapaz, inábil ou incompetente para meditar.
Portanto observe seu corpo, este é o primeiro grande instrumento de ajuste e
lucidez que a meditação nos traz.
Há tensão? Há desconforto? Onde ocorrem dores, desajustes?
Qual a consciência que este momento nos traz, o que está desajustado?
Sugestão: ajuste a coluna, as vértebras, alinhe e faça crescer a coluna,
ambos os lados, do centro para baixo e para o alto.
Ela te ensina mais e mais aonde alongar, onde está presa a energia, o
bloqueio à entrega, nos ombros, nos braços? O que você evita abraçar em si
no outro?
O que você carrega em excesso, seja do passado ou do momento atual?
Em que você se antecipa e se desconecta?
Será que a tensão ocorre mais na base, no quadril, na região da pélvis?
Qual o prazer que evita a si próprio?
Que ideias, ideais, ações, desejos, realizações você impede a si mesmo de
fazer nascer, de dar à luz ou de fecundar e gestar?
Será que é o ventre que pesa, entorpece, qual o plano de competição, poder
que você evita ou ao contrário, vive todo tempo?
Nosso corpo fala, dá sinais, referências do que nos acontece dentro, e na
relação fora; o corpo não mente, fala silenciosamente.
Que tensões sua cabeça, sua face insiste em prender?
Que caminhos suas pernas, seus pés estão cansados de repetir dentro de si e
da vida?
Tome consciência: esse é um dos grandes instrumentos que a meditação nos
traz; a consciência – dentro, a consciência – fora, até que se torne uma só,
uma única referência, uma única ação de coerência, de integridade, não só
com o outro, mas consigo.
E a partir da generosidade, da lealdade, da acessibilidade que tenha para
consigo em sua sombra ou luz, em sua organização ou desorganização, é que se
estruturará um caminho de construção e mudança.
Sem consciência desperta, o sujeito é lançado a julgamentos, a
pré-ocupações, pré-julgamentos, pré-soluções e certamente obstruções do
caminho que inova, que cria, que ultrapassa e vence os obstáculos.
Cada obstáculo é a constatação de um desafio a ser vencido, de um nó a ser
desatado, na estrutura do pensamento.
Nesse sentido o pensamento é sim o grande obstáculo.
Precisamos lembrar que há distintos níveis de pensamentos e muitas vezes no
estado meditativo surge na imensidão dos sentidos, pensamentos de níveis
superiores, elevados de dimensão superior, que alimentam e nutrem nosso
caminho, nosso despertar.
Não é este pensamento de ordem superior, o qual me refiro como obstáculo,
mas sim ao pensamento que corrói, que aprisiona, que amedronta, ameaça e nos
enganar, com ideias e temores sobre nós, sobre a vida, sobre o outro.
É um pensamento que nos ataca, nos alfineta, limita ou nos inflaciona, e de
ambas as formas nos destrói.
Lamentavelmente este é o pensamento usual da consciência em vigília.
Lembrem-se a consciência de vigília pode ser um estado de muitas
realizações, mas pode também ser um estado que serve de veículo à destruição
quando é conduzido por estes pensamentos incessantes, quando é sequestrada
por esse nível de realidade mórbida, obscura e ameaçadora vigente na
contemporaneidade como “normal”.
Este tipo de pensamento existe no ar, na sociedade, no campo familiar,
grupal, cultural; na atmosfera da consciência coletiva e vem para a
consciência de vigília quando há uma ressonância compatível.
Quando a consciência de vigília está desnutrida dos elementos espirituais,
éticos e amorosos torna-se então um espaço psíquico disponível a essa forma
de pensamento, e acaba levando o indivíduo a identificar e acreditar que
esta é a realidade.
A consciência coletiva está imbuída deste tipo de estado de pensamento
vigente na consciência de vigília, uma consciência dominada, adormecida.
Nisto consiste a frase “despertai a consciência”.
Significa despertar dessa realidade enganosa da consciência coletiva que
preenche o indivíduo e o torna torpe, adormecido e incapaz para o serviço
maior da evolução, da compaixão, da ética, da ação correta.
A ação correta não é uma norma imposta de fora com regras; implica no fluir,
na leveza, no bem-estar, na abertura, na expansão, na alegria, mesmo que
estas impliquem em esforço e determinação.
Há nutrição, elevação, disposição interior.
Quando o fluxo é pesado, quando há inércia, medo ou ao contrário, raiva,
excesso de agitação, ocorre um sinal de alerta: então pare, ouça; pare e
respire com consciência corporal!
Óbvio que todos nós respiramos automaticamente todo tempo.  Temos muitas
vezes respirações curtas ou presas, ofegantes, sem consciência corporal do
que está acontecendo nesse fluxo incessante da vida que flui.
A respiração com consciência traz você de volta à realidade corporal.
Aquela que esclarece, que conta e registra o que está acontecendo com você
naquele momento.
Dependendo do estado de consciência essas informações corporais vão se
alargando, se ampliando. Quanto mais consciência corpórea, mais informações
são obtidas de seu estado, de seu momento atual.
Por isso na meditação fique consciente, fique no corpo. É a partir do seu
próprio corpo que a expansão se dá, que a iluminação acontece.
Talvez nesse momento você possa se perguntar: – Então na morte e na doença
não há iluminação?
É claro que há, porém com caminhos diferenciados com segmentos distintos e
específicos para   cada um destes contextos, tanto a doença física como na
experiência da morte física.
A proposta que estamos discorrendo é a da condição humana considerada
saudável, usual do dia a dia, que se deixa sequestrar pela normose coletiva,
que vai padecendo de males da civilização contemporânea; que vivencia
intensamente situações de stress, e que leva para si própria, não os
benefícios da evolução, mas os venenos da mente dispersa.
Que vive a agitação contínua do desencontro, das relações insatisfatórias,
da falta de amor consigo e com o outro. Do autoengano e supervalorização do
“eu” que acha que é o todo consciente poderoso Este é o estágio em que
grande parte da humanidade se encontra na vida cotidiana.
Uma grande população de seres trabalhadores, buscadores, seja de realização
pessoal, de amor, de afeto, de trabalho. Mas buscadores muitas vezes cegos,
que não enxergam o caminho.
É a esta condição de obscuridade mental que estamos refazendo e propondo o
processo do despertar pelo sonho, pela meditação.
Nada impede em absoluto, que aqueles que estão acometidos por um processo de
doença física, possam também seguir este processo e se beneficiar com os
sonhos e a meditação.

Comentários(2)

  1. REPLY
    Isabel diz

    Nós, os professores de Ensino Fundamental e Educação Infantil precisamos muito continuar estudando, especialmente a nós mesmos: descobrir sobre nossas crianças feridas que em tantos dias se misturam com a de nossos aprendizes…
    Sinto muito não ter conhecido a ALUBRAT logo no início da minha carreira… mas agradeço imensamente as transformações que eu pude operar nos últimos anos.
    Aprendi a respirar junto com minhas crianças, ao toque de um pequeno sino três vezes ao dia; cantar mais, realizar cirandas, conversar e brincar muito!

Deixe seu comentário