A felicidade e as emoções positivas precisam ser lapidadas com conhecimentos e tecnologias que nos ajudem a retirar a crosta depositada pela cultura doente em que vivemos.
A Psicologia Positiva e a Psicologia Transpessoal ensinam como cultivar estados de felicidade, entre eles como entender nossas emoções positivas e desenvolver em nós forças, virtudes e criar um mundo pessoal e coletivo melhor. Aristóteles chamou esta vida de uma “vida boa”.
Uma boa vida é importante, porém não bastam os bens materiais, que nos alegram por um curto período de tempo. Deniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, observou pouca correlação entre riqueza e felicidade. Uma “vida Boa” é uma vida de satisfação mais permanente, um estado de alegria mais duradouro onde está presente um sentido para a vida.
Viktor Frankl, psiquiatra que viveu muitos anos em campo de concentração, percebeu que algumas pessoas vivendo ali não adoeciam e suportavam o sofrimento. Tinham fé, acreditavam em uma saída e sonhavam em realizar algo no futuro. Atribuíam significado à vida.
Sentimento de equilíbrio
Viver emoções positivas implica também em não negar as emoções negativas. Evolutivamente, as emoções negativas possuem funções, porém no momento atual podemos diminuir a intensidade e temporalidade destas emoções e, sobretudo, usá-las a nosso favor de forma consciente. Como exemplo, podemos citar a inveja. Quando sentimos inveja reconhecemos no outro aspectos positivos que não estamos conseguindo ver, ter e sentir em nós. São potencialidades que estão escondidas de nosso raciocínio. Portanto a inveja é uma carência, um estado próximo de se tornar consciente. Um desejo de possuir algo que nos tornaria mais pleno. Podemos reconhecer a inveja como um sentimento positivo se formos capazes de compreendê-la e transformá-la em um sentimento de equilíbrio.
Martin Seligman, um dos criadores da Psicologia Positiva, fez a seguinte pergunta: o que permite e o que impede as emoções positivas? Aristóteles afirmava que a felicidade era o significado e o propósito de vida. Porém, mesmo sendo a felicidade o maior desejo do ser humano, ainda não conseguimos criar um mundo feliz. Ninguém nos ensina didaticamente e logicamente como ser feliz. A educação não está comprometida com a felicidade.
Seligman observou que para cada 100 artigos em jornal sobre tristeza, há um sobre felicidade. Freud dizia que há em nós um instinto de vida que chamou de Eros e um instinto de morte que chamou de Thanatos. O papa João Paulo II dizia que o mundo está mergulhado em uma “cultura da morte”. A felicidade e as emoções positivas precisam ser lapidadas com conhecimentos e tecnologias que nos ajudem a retirar a crosta depositada pela cultura doente em que vivemos.
Thanatos ou Eros
Qual vai dar o tom para a música de nossas vidas? O que podemos dizer é que será dominante aquela que as sociedades e os indivíduos cultivarem. A Psicologia Transpessoal e a Psicologia Positiva estabeleceram conexões claras entre felicidade, virtudes e habilidades. O melhor de nós pode florescer quando cultivado. Quando o bem-estar é fruto da integração de emoções positivas, virtudes e forças pessoais, temos maior sucesso no campo profissional, nos relacionamentos e uma experiência de autorrealização.
Seligman divide as emoções em três tipos. Em primeiro lugar as emoções voltadas ao passado. Exemplo: satisfação, contentamento, orgulho e serenidade. Em segundo lugar as emoções voltadas para o futuro: otimismo, esperança, confiança, fé. Em terceiro lugar as emoções voltadas para o presente: prazeres e gratificações.
Prazeres são as emoções positivas ligadas aos cinco sentidos. Cheiros, sabores, sensações, visões, cores, sons. Também as emoções positivas como alegria, encantamento, entusiasmo etc.
As gratificações são atividades que gostamos de fazer. Exemplos: ler, dançar, jogar, trabalhar. As gratificações criam um estado em que o tempo pára. Quando pensamos em como foi gostoso aquela dança, aquele esporte, dizemos: “Poxa, como foi maravilhoso!” Mihaly Csikszentmihaly, professor da universidade de Chicago, denominou este estado de Flow, experiência de fluxo. A vida flui.
Outros tempos
Na psicologia dos Terapeutas do Deserto (século III) encontramos ideias, práticas, exercícios e meditações para conquistar estados de felicidade. Para eles, nossos defeitos poderiam ser a matéria prima para a construção de estados de bem-estar e, sobretudo, de virtudes. Descreviam as paixões com suas virtudes correspondentes.
Vamos relembrá-las aqui: raiva, orgulho, inveja, avareza, gula, luxúria e preguiça. Nos enganamos quando identificamos estas paixões como defeitos ou “pecados”. Atrás de cada pecado está escondida a verdadeira natureza humana. Aquilo que em essência é o ser humano. Um vir a ser. Jean Yves Leloup nos lembra que a etimologia da palavra pecado é “errar o alvo”. O sentido de pecado é errar o alvo, portanto um processo de aprendizagem.
O arqueiro aprendiz erra o alvo até que a arte se instale em seus braços. Então para a raiva, há por trás a virtude da serenidade. Para o orgulho, a humildade. Para a inveja, a originalidade. Para a avareza, a generosidade. Para a gula, o equilíbrio. Para a luxúria, a inocência. Para a preguiça, a ação.
Felicidade é arte, é a arte de transformar nossos defeitos em virtudes. Pedra fundamental na educação, psicoterapia e organizações. É o grande remédio para tempos de “cultura de morte”. Só com a felicidade autêntica se constrói uma cultura de paz, uma cultura da vida!
O segredo da felicidade
Abraham Maslow dizia que se quiséssemos saber sobre o ser humano que deu certo, o ápice de nossas potencialidades, devemos olhar para as pessoas realizadas e felizes. Podemos citar como exemplo madre Tereza de Calcutá, Ghandi, Mandela e empresários que são ousados e capazes de colocar em suas empresas a felicidade como um diferencial estratégico.
No mundo, já existem movimentos sociais para a felicidade acontecendo. É o caso, por exemplo, do Movimento Seja Mais Feliz, que envolve governos e empresas, e o FIB (Felicidade Interna Bruta), nascido no Butão. O conceito de Felicidade Interna Bruta nasceu em 1972, em um pequeno país do Himalaia, quando o rei questionou se o Produto Interno Bruto seria o melhor índice para designar o desenvolvimento de uma nação.
Através dos quatro pilares da FIB, economia, cultura, meio ambiente e boa governança, derivam-se 9 domínios de onde são extraídos indicadores para que a “Felicidade” de uma nação seja avaliada.
Estes processos podem ajudar o mundo a sair da “cultura da morte”.
– Luiz Carlos Garcia: Psicólogo, psicoterapeuta, coach, professor da pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Alubrat e professor da Unipaz Brasil.
Referências:
– Terapeutas do Deserto – De Fílon de Alexandria e Francisco de Assis a Graf Dürckheim
– Jean-Yves Leloup / Leonardo Boff – Editora Vozes
– A sabedoria do salgueiro – Jean-Yves Leloup – Editora Verus
– Felicidade Autêntica – Os princípios da psicologia positiva – Dr. Maartin Seligman – Ed. Pergaminho.
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