Por Cely Ribeiro Wagner
Famílias abandonadas por nós humanos, quando sentimos ou achamos que as situações dificultosas não tem fim.
Nós os chamados humanos, quando colaboramos uns com os outros, e conseguimos atravessar os períodos mais exigentes da vida, brindamos e festejamos juntos, ao final.
Mas, me parece que muitos de nós pode perceber que, diante às situações dificultosas que se instalam, o nosso comportamento humano, tem sido o afastamento da Situação Dificultosa e, consequentemente abandonamos irmãos.
Nós, terapeutas de famílias, daquelas famílias , em vivências de grandes traumas ou de traumas repetidos, encontramos muito abandono familiar e ouvimos frases como estas: – Ali não adianta, fulano já colaborou, nós todos colaboramos e a situação continua feia. Para mim chega! Mas…. é seu irmão ou irmã! – Bom ele que se vire. Ele procurou isto…… Ou ainda , desde criança faz escolhas erradas…….etc…
O ser humano mostra não ter consciência de que um elemento da família atrapalha todos os demais, caso desistam dele.
De que, temos sempre que buscar a unidade, porque assim, vamos aprendendo que estas dificuldades são as que nos ensinam a sermos mais solidários, sermos mais fraternos e a formarmos comunidades que defendam as leis, que ignoramos serem leis físicas e não somente leis morais.
Nós terapeutas de famílias, assistimos a abandonos que vão se tornando cada vez mais cruéis.
Mesmo não culpando ninguém, queremos pontuar que vamos percebendo a repetição deste comportamento humano, cada vez mais presente na sociedade.
Nossa organização humana favorece a instalação do individualismo.
Nós, os humanos, não sabemos aceitar com confiança, as incertezas e as variedades da VIDA. Fechados em nossos problemas e encantados com nossas pequenas conquistas, perdemos a percepção do todo e, pior, agimos como se estivéssemos o percebendo. Assim iludidos, caminhamos numa vida social superficial, com obrigações sociais que não nos convencem mais.
Fica no ar uma pergunta que nos inquieta, mas da qual não queremos tomar ciência:- Quem ou o que pode nos ensinar a sermos mais fraternos? Mais solidários? Quem pode nos ensinar a viver, ao mesmo tempo, em comunidades e sozinhos!? Conscientes do nosso papel social, mas também, de que devemos dar conta sozinhos de nosso bem estar e de nossa afirmação pessoal?
Quem pode nos ensinar? A escola? A família? As propostas terapêuticas? As religiões? Muitas vezes as percebo com pouca força na ação transformadora! ( Percebo algumas pequenas conquistas e os que as conseguem são chamados “privilegiados”.
Confere esta minha percepção individual?)
Parece que estamos no tempo da « cegueira branca » apresentada por José Saramago ( lembrando :- ‘no livro quando a « cegueira branca » se torna uma epidemia, os problemas da nossa sociedade que não queremos enxergar, se intensificam de tal forma que chega a um ponto em que o civilizado se torna primitivo’ )
Vamos continuar aprendendo com a DOR ? É…….se tem algo que nos iguala, e a todos os humanos, é a DOR! Todos somos iguais ! EM TODOS DÓI.
Mas por que precisamos esperar que a DOR chegue cada vez mais perto de cada um de nós para ENXERGARMOS A LEI FÍSICA DA SOLIDARIEDADE?
-Há situações mais absorventes que nos envolve a todos?
-Buscamos não sair da zona de conforto que conquistamos?
-Abandonamos irmãos e nos acostumamos?
Nós, terapeutas de “famílias de grandes traumas”, encontramos este ambiente que descrevo , em nossos caminhos. Encontramos pequenas famílias abandonadas pela sua « família de origem », pois elas próprias ficam constrangidas de solicitarem a colaboração de seus irmãos. E mesmo os que prometem colaborar não praticam o exercício verdadeiro de solidariedade ou mesmo de fraternidade.
Diante de situações dificultosas, que não iniciam um processo em direção à saúde e tornam-se repetitivas, o comportamento humano tem sido de abandono.
Fico diante de mais questões:
– Como tratar? Como unir esforços da grande família para que dê força afetiva, social ou até financeira, àquela que necessita e nasceu do mesmo berço?
-Será que a família atingida por uma catástrofe, por exemplo, deve encontrar força somente dela própria ou também na sua família de origem ?
-Será que não seriam estas, as oportunidades que a vida nos oferece para exercitarmos a fraternidade e a solidariedade?
-Será que nós humanos não vamos « adormecendo » quando abandonamos irmãos e perdemos a oportunidade de fazer o treino da fraternidade e da solidariedade?
-Será que a DOR humana precisa chegar cada vez mais perto da gente, já que distante, não a enxergamos?
-Será que os grandes centros necessitam de leis jurídicas para que estes exercícios entre irmãos aconteçam? LEIS QUE ,NA VERDADE, JÁ EXISTEM( na ausência dos pais é de direito os irmãos fracos buscarem colaboração com irmãos fortes!)
-Por que será que observo que existe este exercício de solidariedade entre os que vivem nos sertões de Minas Gerais, como, por exemplo, Santa Maria /Sacramento e de Pernambuco, como nas comunidades de Arcoverde que presto serviço à Fundação « Obras na Terra? »
Arrisco uma resposta: Eles estão vivendo no sertão, próximos aos índios, seres que conservam a “alma brasileira” viva.
É…… são questões que me exigem dividir este texto com a família, amigos queridos, ou mesmo com profissionais da saúde ou da educação.
Tenho dito! Tenho me observado! Tento observar a nossa vida social. Tento fazer meu melhor! Muito a melhorar!
Cely Ribeiro Wagner
Terapeuta Transpessoal, psicopedagoga, sociopsicodramatista
http:/celywagner.net.br
Cely: Mora em Genebra e faz trabalhos na Suíça. No Brasil trabalha nos sertões de Pernambuco ou de Minas Gerais, oferecendo trabalhos voluntários. Atende convites dentro de clínicas ou associações de classe em Campinas e Salvador. Aberta a outros convites, atende dentro das possibilidades.
Comment(1)-
Maria Crema Mendes diz
22 de março de 2020 at 8:29 amCely querida,estive tão afastada das redes sociais que agora,que resolvi voltar na tentativa de compartilhar o momento com os tão queridos amigos virtuais, sinto dificuldades no manuseio do recurso em mãos.
sua disponibilidade , o cuidado e empenho em cumprir com fidelidade seus propósitos para com o próximo sempre despertaram em mim respeito, admiraçao e a amizade prouinda e sincera que nos une.
relendo seu texto concluo que …
Sim!!! A dor chegou para todos os habitantes do planeta no mesmo momento como um clamor a nos forçar através do isolamento o grande mergulho no mais profundo de nosso ser encontrando assim nosso grande potencial de adaptação e busca de recursos de crescimento, aprendizado e solidariedade. todos eles essencialmente ligados ao AMOR .GRANDE E ÚNICO RECURSO E OBJETIVO DE NOSSAS VIDAS>
QUE HAJA AMOR!!!
QUE HAJA PAZ!!!
Grande abraço, amiga e grande guerreira ! A que na já descoberta dos próprios recursos internos, os usa com maestria!
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