Como seriam os paradigmas de uma educação evolutiva?
Acredito que, no trabalho de cuidar, há uma grande porção de um trabalho de educador… e vice-versa. Desde que mergulhei nos processos de auto-conhecimento e, especialmente quando encontrei a Psicologia Transpessoal, passei a vivenciar, no ambiente “escolar”, um aprendizado que ia muito além dos livros, das aulas e dos conteúdos teóricos.
Aquilo descortinou um novo mundo diante dos meus olhos: uma forma de aprender que estimulava os sentidos e o sentir, que partia de um princípio de acolher sensações, intuições, a criatividade, o pensamento divergente do conteúdo trazido pelo professor.
Salas de aula em roda e um ambiente cuidado de tal forma que estimulava a atenção plena, o silêncio… e também as conversas e partilhas que poderiam até vir do entendimento do conteúdo, mas vinham muito mais de nossas percepções pessoais, experiências de vida e tudo aquilo que poderíamos compartilhar e que ampliasse as conexões com o conteúdo abordado.
Rodas e mais rodas, duplas, trios, grupão… trabalho de mente e corpo. Como assim, uma aula em que o corpo também aprende, em que as emoções são consideradas forma de compreender o mundo? O aprendizado acontecia por todos os poros… pelo corpo, pela mente, pela alma!
Arte, tinta, dança, silêncio… Aprender com os símbolos e fechar o dia agradecendo com uma música trazida espontaneamente.
Uma atmosfera de respeito que dizia, sem palavras, que os professores não viam alunos, mas seres com a possibilidade de expressar seu pleno potencial, colocando-se disponíveis e atentos para estimular justamente este florescimento.
Hoje compreendo que aquilo que me abriu um mundo de novos olhares e “sentires” é, na verdade, a prática de um novo paradigma em educação.
Uma forma de educar com olhar da abundância e dos valores humanos.
Daquele dia em diante, passei a desejar contribuir com o mundo levando este tipo de experiência a outras pessoas.
Hoje, alguns anos depois de meu primeiro contato com a Psicologia Transpessoal e uma diversidade de outras vivências, que expandiram não só meu conhecimento intelectual, mas todas as áreas da minha vida — do mundo emocional a espiritualidade — trabalho como facilitadora, coach e terapeuta. Desenho e facilito processos de aprendizagem vivencial… Na @cuidadoria, a Formação de Líderes Evolutivos é totalmente desenhada neste novo paradigma.
Mas qual é este paradigma? Quais são os componentes desta nova forma de aprendizado.
Peço licença para trazer aqui a inspiração de professores da Transpessoal, como a Dra. Arlete Acciari e Dra. Vera Saldanha:
O Velho Paradigma:
- O conteúdo é o mais importante, feito como uma entrega de informações “corretas”;
- O aprendizado é um produto voltado a uma determinada destinação;
- Estrutura hierárquica, vertical em que o conformismo e a aceitação da autoridade são recompensados;
- Currículo pré-determinado, por uma instância a qual é dado o poder de decisão;
- Progresso controlado, compartimentado por idades;
- Prioridade no fazer, na realização;
- Ênfase no mundo exterior (experiência interior frequentemente considerada imprópria ao ambiente escolar);
- Dúvidas e divergências são desencorajadas;
- Valorização do pensamento linear e analítico;
- Confiança no conhecimento teórico’
- Salas de aula focadas em eficiência e conveniência;
- Estrutura burocrática e resistente aos anseios externos, da comunidade, do mundo, da sociedade;
- Educação encarada como uma necessidade para desempenhar papeis sociais;
- Muito tech e pouco touch: muita tecnologia e equipamentos e pouco contato humano;
- O professor entrega o conhecimento.
O Novo Paradigma:
- Aprender a aprender, como fazer perguntas, como prestar atenção, abrir-se a novos conceitos e avaliá-los. Saber relacionar o conteúdo ao contexto onde está sendo aplicado e compreender que é necessário manter-se aberto a mudanças, inclusive daquilo que se sabe;
- O aprendizado é um processo;
- Permissão a sinceridade e divergências. A relação aluno-professor é de troca e não ligada a função;
- A autonomia é encorajada a todo tempo;
- Diferentes caminhos para ensinar um mesmo assunto;
- Integração de diferentes grupos sem limitação automática por classificações como idade, por exemplo;
- Autoimagem como geradora de realização;
- Contexto que inclui a experiência interior, com exercícios que encorajem a exploração de sentimentos, do centramento, da vulnerabilidade e dos conteúdos simbólicos e artísticos;
- Dúvidas e pensamento divergente como parte do processo criativo;
- Racionalidade estimulada por estratégias não-lineares, intuitivas em confluência com o pensamento analítico e linear;
- Conhecimento teórico combinado com a aprendizagem experiencial, dentro e fora da sala de aula;
- Ambiente de aprendizagem pensado para o conforto, naturalidade, privacidade, interação e flexibilidade para atividades de diversos tipos;
- Utilização da tecnologia, mas a ênfase está no relacionamento humano;
- Professor e educando aprendem juntos.
Para colocar o novo paradigma em prática, além de um arcabouço vasto de ferramentas, é necessário muito mais: partir do auto-conhecimento e de um princípio básico: nada no ser humano pode ser descartado, deixado de lado… Somos seres integrais e expressar nossa inteireza é abrir o campo para o caminho evolutivo, para nos vermos como líderes de nós mesmos e de nossa própria vida, mas interconectados uns aos outros e a natureza, conscientes e praticantes de valores que potencializem ações positivas em todos os níveis: individual, nas relações humanas e com o mundo ao nosso redor.
O professor é aquele que já caminhou mais na trilha evolutiva, mas reconhece que todos nós somos aprendizes evolutivos e nos dá o impulso, desperta a curiosidade e a motivação para seguir o caminho…
Texto gentilmente cedido pela autora, terapeuta e coach Thianne Martins.
Conteúdo retirado de seu blog, disponível no link ps://medium.com/
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